sábado, 25 de abril de 2009

Ser ou não ser resiliente é a questão

Li este texto produzido pela Sofia Esteves, publicado inicialmente na Gazeta Mercandil e reproduzido no Connecting HR Professionals - Brazil (Grupo de RH no Linkedin) e julguei interessante também reproduzir aqui. Aí vai:

A crise, nestes últimos meses, tem sido protagonista de muitas notícias e artigos, como este que escrevo. Ora o enredo desta novela tem um foco pragmático apontando números e previsões, ora ele é dramático e narra detalhes do cotidiano de cada um de nós que, inevitavelmente, é afetado pela crise. Continuarei a insistir no enredo de que é preciso compreender este contexto de crise mundial pela dimensão da saúde e não da doença. Quem, no seu percurso profissional, já não passou por algum tipo de dificuldade seja ela emocional, social, física ou econômica? No entanto, o que possibilita que alguns enfrentem e re-signifiquem estes problemas e outros não?

O fenômeno da resiliência tem sido apresentado pela Psicologia como via teórica para compreender e discutir as interrogações acima. Diane Coute, autora da pesquisa "Resiliência: para que serve?", publicada na Harvard Business, afirma que resiliência está ligada à capacidade de assimilar as situações adversas com pé no chão, sem otimismo exacerbado ou discursos terroristas. No universo corporativo é comum a utilização da metáfora, derivada de um dos ideogramas da escrita chinesa, que associa crise à oportunidade. Porém, a efetiva transformação de uma situação de crise em desafio e oportunidade para crescimento - seja no plano individual, seja ele coletivo - implica em um processo de aprendizagem e desenvolvimento de ferramentas psicológicas na busca por promoção de condutas resilientes nas organizações. Ou seja, é preciso selecionar e desenvolver profissionais com a capacidade de não apenas "lidar com a adversidade", mas também transformá-la e transformar-se diante do cenário de crise.

Tais transformações se tornam possíveis se na construção de um percurso profissional houver não só inteligência, comunicabilidade e senso de humor, mas também fatores como confiança em si mesmo, valorização dos vínculos construídos, modelos efetivos de liderança, assim como o paradoxo da disciplina de ser flexível. É evidente que a promoção de condutas resilientes no ambiente de trabalho tem a ver com um efetivo aproveitamento e comprometimento do potencial humano das corporações. Desenvolver-se profissionalmente em um ambiente no qual existe incentivo para soluções criativas na superação das adversidades, resulta em equipes, modelos de gestão e organizações também mais resilientes.

A resiliência, neste aspecto, seria, então, o ato de "tricotar" recursos dentro de um sistema dinâmico como o da gestão de pessoas em uma empresa. É preciso tecer a rede entre as potencialidades individuais de enfrentamento das adversidades, os vínculos e afetos construídos por essa equipe, recursos financeiros, assim como visão, missão e valores corporativos. No tricotar dessa rede tais elementos se comunicam, perpetuando uma renovação de processos, mitos, crenças, padrões e narrativas que já não serão úteis em um novo contexto pós-crise.(Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 7)

Sofia Esteves - Psicóloga, professora de MBA da FIA, consultora de RH, presidente do Grupo DMRH e Cia de Talentos.